Trote: Humilhação pública ou Rito de Passagem?

Há muito tempo que debatemos a questão do trote em nossas universidades. Há tempos atacamos ferozmente essa prática em nossa retórica, entretanto pouco ou nada fazemos para impedi-la entre os nossos própros muros.

Seres humanos passam por situações que em outras ocasiões seriam, sem equívoco, considerados excessos desnecessários, chegando ao extremo de jovens serem hospitalizados com ferimentos ou mesmo em coma alcoólico, como aconteceu há pouco tempo em São Paulo. Já houveram mortes!

Pois bem, nós seres humanos, tão distintos dos demais animais, com nosso encéfalo altamente desenvolvido e nossos polegares opositores, o que fazemos diante disso? Subimos ao alto de nossos castelos, declaramos o trote como algo deplorável, retrógrado e humilhante, e por fim o proibimos.

Proibimos, mas desde que ingressei na universidade em meados de 2006, a cada semana de integração (e acompanhei todas) vejo calouros sendo pintados ao som de “Bixo tem que morrer!!” bem em frente ao Gustavão durante a aula inaugural!

Não quero com estas palavras fazer um atestado da incapacidade desta universidade em coibir o trote e fazer valer a tão divulgada “Resolução n. 2 de 1996”, todos sabemos que nunca houveram excessos dentro do P1, não dentro do P1. Quero com isso tentar levar as discussões sobre o trote para um rumo um pouquinho diferente: a necessidade do trote.

Desde tempos imemoriais, a civilização humana marca grandes passagens na vida de seus membros por meio de rituais, que vão desde o batismo ou o casamento de um cristão até os ritos de maturidade de tribos no interior da África. Os ritos de passagem e os mitos associados a estes fazem parte do nosso inconsciente coletivo tanto quanto, por exemplo, a religião.

Seria então o trote uma dessas cerimônias de passagem que estã há tanto tempo arraigadas em nosso espírito humano? Sim, meus amigos, seria. É indiscutível que a entrada em uma universidade é uma mudança radical de paradigma na vida de um estudante. Seria estranho, portanto, a partir desse ponto de vista, imaginar que tal passagem não deveria ser marcada de alguma maneira.

Entretanto, proponho um questionamento: será que essas atitudes degradantes são realmente necessárias? Não haverá outras formas de marcar o ingresso do estudante na universidade? Creio que muitos de nós concordam que não há humilhação em pintar o rosto, chamar de “bixo”, ou mesmo, em alguns casos, em cortar o cabelo. Mas será que nós veteranos precisamos fazer tudo isso ostentando tanta superioridade? Precisamos ser tão arrogantes?

Desde o meu segundo período tenho travado uma luta ferrenha contra o trote no meu curso, e posso dizer que não foram poucas as vezes em que vi os calouros se decepcionarem por não serem recebidos com tintas e tarefas estranhas. Existe uma expectativa por parte deles em torno do trote. Será que nós temos o direito de nos aproveitarmos dessa expectativa para cometermos abusos?

Termino este artigo fazendo um apelo aos únicos que podem fazer algo para evitarem que excessos sejam cometidos, os veteranos: Meus amigos, não vamos fazer nessa universidade o mesmo circo de horrores de cada início de período! Bixo não tem que morrer! Bixo é gente!!!


Postado ao som de Skies on Fire - AC/DC

Comentários

  1. BOM, ESPERO QUE QUANDO EU PASSAR PARA A UFRRJ(O QUE VAI OCORRER OBVIAMENTE)EU NÃO SOFRA NENHUM TROTE HUMILHANTE E RIDÍCULO.ESTOU NOTANDO QUE O ÚLTIMO COMENTÁRIO POSTADO ANTES DO MEU É DE 11 DE FEVEREIRO DE 2009!COMO DEMOREI PARA LER ISTO!

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  2. Ai Jesus...Sou caloura da UFRRJ, começo dia 28...esse negócio de trote seeempre me preocupou...e agora tah chegando a minha vezzz...#medo

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