Pequenas alegrias da vida adulta

A alguns dias atrás eu escrevi um post (não me lembro qual foi e não estou tão a fim de procurar) em que no final recomendava "Emicida: AmarElo - É Tudo pra Ontem" documentário belíssimo da Biblioteca Vermelha.

Não sei se ficou razoavelmente claro mas a recomendação também se estendia ao álbum "AmarElo" do Emicida, cujas canções amarram o roteiro do documentário.

Pois bem, hoje eu estava escutando de novo o álbum e um som em particular que gosto muito: "Pequenas Alegrias da Vida". Me peguei, então, pensando em escrever algo sobre o assunto, sobre as minúsculas coisas que acontecem no dia a dia e fazem valer a pena acordar de manhã.

Já estava com o texto organizado na cabeça, apesar de não satisfeito com o clichê. Só precisava terminar de estender a roupa lavada, limpar a área de serviço e sentar na frente do computador. Com tantos dias de tempo fechado e mesmo chuvas esparsas o que não faltava era roupa pra lavar.

Foi então que o texto mudou. Mais ou menos no meio do estender as roupas, quando já tinha bastante coisa no varal ele achou por bem de desistir deste emprego e finalmente se aposentar. Decidiu fazer isto da maneira mais interessante o possível: arrebentando ao meio e derrubando minhas roupas recém-saídas da máquina sobre a grama ainda um pouco molhada da chuva de ontem.

Cena linda de se ver enquanto se pensa nas pequenas alegrias da vida de adulto.

Ontem aconteceu algo similar. Andando pela rua rumo à academia achei por bem comprar uma caixinha daquelas de Mentos de frutas. Tinha um tempão que eu não comia bala e essa era uma das minhas favoritas.

Todo feliz enchi a mão com um monte (na infância e adolescência eu comia uma de cada vez pra durar mais porque era cara) e joguei tudo na boca felizão. 

Tão feliz que esqueci que estava de máscara.

E lá foram metade das minhas balas ao chão enquanto eu tinha um microssegundo de desolação e sensação de idiota.

O mesmo microssegundo que passei hoje com o varal e que passamos tantas vezes na vida.

E daí que eu pude tirar um novo pensamento sobre essas tais "pequenas alegrias da vida adulta": O que acontece depois daquele pequeno instante de estupefação diante de uma dessas micro frustrações do cotidiano?

Houve um tempo em que eu ficaria puto e com vontade de colocar fogo em alguma coisa. Mas hoje não. Nas duas ocasiões o que veio depois foi um boa gargalhada.

A sensação leve de se divertir com algo que vem de surpresa em uma hora péssima mas não deixa de ser engraçado. Como se o roteirista da história da vida pensasse que era hora de um alívio cômico.

Talvez coisas como deitar para ver um filme depois de um dia cheio ou encontrar uma cerveja bem gelada que você tinha esquecido no fundo da gaveta da geladeira não sejam as verdadeiras alegrias de ser adulto justamente por serem óbvias. Seriam alegrias na vida de qualquer um.

Talvez os verdadeiros momentos de satisfação estejam justamente em extrair graça e descontração de coisas frustrantes que em outros tempos te fariam ficar puto ou chateado. São nessas situações em que você se sente não só alegre mas também adulto. 

Diverte-se com o ocorrido e se percebe maduro por ter se divertido.

Ilustro este post com um quase arco íris no meio do lixo da minha varanda que neste momento está imunda.

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