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Sobre o privilégio de ser professor

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 Hoje tinha planejado um posto sobre tirar fotos ruins da Lua com a câmera do celular e como isso reflete a frustração de tentar encontrar beleza na vida e não conseguir, mas quando acabei de montar o meu tripé para tirar a foto o tempo terminou de nublar e não tinha mais Lua... Esse vai esperar mais um pouco. Vou compartilhar com vocês por aqui então um dos textos que mais gosto de ter podido escrever, tanto pelo conteúdo quanto pelo contexto.  Trata-se do meu discurso de paraninfo para os formandos do Ensino Médio do C. E. Clodomiro Vasconcelos em 2019. "A mim hoje foi entregue a honra de ser seu Paraninfo. Hoje, no dia em que vocês se despedem do nosso colégio com mais uma etapa cumprida, coube a mim a honra de ser seu último professor. De dar a última lição antes que vocês partam em definitivo para o mundo lá fora. Curiosamente eu tive o privilégio de ser professor da maioria de vocês ao longo dos três anos, e gostaria que vocês lembrassem de nossa primeira aula. Lá falamo...

Fragmentos de noites sem sono

Agora buscarei centrar-me. Darei espaço, finalmente gritarei: Horas intermináveis! Já li muitas nuvens onde prostrado queria repousar.  Sempre tenho uma vã xarada zumbindo...

Sobre cuidados com a casa como uma forma de autocuidado

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ou Sobre lavar uma pilha de louças e outra de pensamentos. Não serei hipócrita. Nunca gostei de tarefas domésticas. Para o bem da verdade sempre que a coisa é algum tipo de "tarefa" geralmente já começa a atacar a alergia. Para além de toda a reflexão mais simples de que como homem de fato não é esperado que a organização das tarefas diárias da casa parta de mim, fica um outro tipo de sentimento que tenho tido nas últimas semanas e gostaria de compartilhar. Fui casado durante os últimos dez anos. Durante este tempo por mais que, não sendo exatamente um completo idiota, eu sempre buscasse dividir as tarefas de uma maneira mais ou menos igual pude aos poucos aprender que mais do que o fazer as coisas em si, cuidar da casa demanda toda uma energia mental despendida nos processos de decidir o que fazer e quando fazer. E sendo bastante honesto essa parte eu nunca fiz (eu disse que eu não era um COMPLETO idiota e não que não fosse pelo menos um pouco). Agora que estou só às vezes m...

Sobre voltar a escrever

Primeiro tenho que dizer que é estranho. Ontem me peguei lendo as postagens mais antigas e vendo que se passaram já dez anos desde a última vez que apareci por aqui. É claro que ninguém mais liga para blogs (a dez anos atrás já não ligavam), mas vai além: tem a ver com o fato de que eu sempre me vi escrevendo em momentos difíceis. Sempre gostei de usar as palavras como ferramentas para colocar pra fora coisas que às vezes não são tão óbvias. Iniciei este blog em 2007 de maneira anônima e confesso que não me lembro mais a motivação, minhas únicas postagens são três poemas que não me recordo mais porque escolhi. Mais tarde acabei encontrando aqui um refúgio para falar sobre as coisas do mundo, algumas mais concretas e outras mais abstratas. Lendo escritos antigos chego a lembrar com saudade da época em que refletir sobre como a figura do cientista tinha se tornado o mito do detentor da verdade era uma coisa interessante. Hoje no auge do negacionismo da ciência em meio a uma pandemia me f...

Excertos de um espírito em sono profundo

Busquei descobrir um jeito de encobrir o sentimento de dor do peito ferido. Inútil. Busquei encobrir o sonho de um momento tolo de luz que se consome e sucumbe. Inútil. Busquei no profundo dos olhos vermelhos um novo jeito de viver. Inútil. O luto é um professor cruel. Mesmo entendendo seu espúrio jeito de prover crescimento, continuo sem reconhecer meus novos sonhos e quereres. Porém inútil mesmo é querer remover do peito o sopro forte do vento que me trouxe um novo sentido. Um sentido de vigor, de fim do sofrimento e possivelmente começo de um novo jeito de ser. Encobrir os contos e os sonhos nem sempre é estúpido.  Confesso que é difícil escrever deste jeito, reconhecendo que nem tudo é possível e nem tudo tenho em meu toque. É difícil escrever sem reconhecer que o que nem tenho nem terei é o que sinto perto porém longe.

Quando a mediocridade é o que resta

Interessante essa história de ser professor. Sempre vi meus professores como pessoas cultas e bem estruturadas intelectualmente. Verdadeiros exemplos a serem seguidos. Pessoas que eram intelectuais sem serem arrogantes e sérias sem perder o senso de humor. Decidi ser professor também. Me preparei da melhor forma possível, batalhei uma faculdade federal num curso bastante complicado, mantive minha cultura geral o mais ampla possível e busquei sempre estar atualizado com o mundo. Em suma: busquei ser aquilo que imagino de um professor: um intelectual. Agora estou dentro da sala de professores junto aos meus pares e me deparo com um paradigma totalmente diferente, em geral o papo é o mais alienado possível. Na melhor das hipóteses surge uma discussão política que não tarda em cair no "não tem mais jeito". E esse é o ápice. Agora pouco ouvi um discurso homofóbico de um colega. Não é triste quando a mediocridade é o que resta, é triste quando as pessoas ainda não consegu...

Contraria sunt Complementa (Parte 1)

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Sempre foi uma pergunta recorrente, principalmente entre ateus relutantes e agnósticos, o questionamento de se Deus seria real ou estaria apenas dentro da nossa cabeça. Depois de tanto remoer pensamentos, nem sempre agradáveis, podemos chegar a uma resposta que parecia pairar no ar o tempo inteiro: Sim, ele está apenas dentro de nossa cabeça. Mas logo em seguida devemos fazer uma segunda pergunta: isto o torna menos real? Afinal de contas, se olharmos para tudo em nossa visão de mundo, desde os sentimentos mais abstratos até aquela topada dolorosa com uma pedra no caminho, em última instância todas as nossas percepções não estão dentro do domínio da nossa mente? O questionamento de Berkeley sobre o fato de todas as sensações e sentimentos humanos serem sempre objetos do domínio da mente não necessariamente precisa ser encarado como uma inocente negação da existência da realidade objetiva para além dos domínios da imaginação humana. Afinal de contas, se àquelas coisas que se pass...